Pare de cair em armadilhas comuns
Nem toda dívida é vilã, mas muitas viram problema por falta de planejamento. Entenda como distinguir o que ajuda e o que atrasa sua vida financeira.
A naturalização das dívidas no Brasil
No Brasil, o endividamento é parte da vida de milhões de pessoas. Estar com o nome no SPC, com o cartão estourado ou “empurrando” uma fatura para o mês seguinte se tornou algo tão comum que, muitas vezes, não é nem encarado como um problema sério.
Para alguns, dever é motivo de preocupação. Para outros, virou motivo de piada, como mostram os memes sobre viver no crédito rotativo. Essa naturalização das dívidas revela uma realidade preocupante: a cultura do consumo sem planejamento e a ausência de educação financeira básica.
Em um cenário assim, entender a diferença entre dívida boa e dívida ruim é mais do que uma questão teórica — é uma ferramenta essencial para tomar decisões conscientes e proteger sua saúde financeira (e mental).
O que é uma dívida?
Dívida é todo compromisso financeiro assumido com terceiros. Pode ser um empréstimo, financiamento, parcelamento no cartão de crédito ou até o famoso fiado.
Ter uma dívida não significa necessariamente estar desorganizado. No entanto, o problema começa quando essa dívida ultrapassa sua capacidade de pagamento, gera juros altos ou é feita por impulso — o que, infelizmente, é cada vez mais comum.
O que é uma dívida boa?
A chamada dívida boa é aquela que tem potencial de gerar retorno — seja financeiro, pessoal ou profissional. Além disso, é um tipo de dívida que se alinha aos seus objetivos e que, quando bem planejada, pode te ajudar a crescer.
Características de uma dívida boa:
Cabe no orçamento mensal com folga;
Possui juros baixos ou previsíveis;
Está relacionada a um investimento em você ou no seu patrimônio;
Gera retorno a médio ou longo prazo.
Exemplos práticos:
Financiamento estudantil: aumenta seu potencial de renda e empregabilidade.
Investimento em um pequeno negócio: quando planejado, pode gerar lucro.
Compra de um imóvel com prestação menor ou igual ao valor de aluguel.
Aquisição de ferramentas de trabalho: como computador, celular ou equipamentos para autônomos.
Em todos esses casos, o objetivo da dívida não é suprir um desejo imediato, mas criar valor ou estabilidade futura.
E o que é uma dívida ruim?
A dívida ruim, por outro lado, é aquela que compromete seu presente e o seu futuro. Ela surge, muitas vezes, sem planejamento, por impulso ou por pressão social. E o pior: não traz nenhum retorno concreto — apenas gratificação imediata.
Sinais de uma dívida ruim:
Juros altos (rotativo do cartão, cheque especial);
Parcela que não cabe no orçamento;
Motivação emocional ou impulsiva (ex: compras em datas promocionais);
Aumento contínuo do endividamento sem solução real.
Exemplos típicos:
Parcelar roupas ou eletrônicos sem necessidade real;
Contrair empréstimos para pagar outros empréstimos (bola de neve);
Comprar carro ou celular acima da sua capacidade de pagamento e manutenção;
Financiar festas, viagens ou bens de consumo sem reserva.
Em muitos casos, essas dívidas são vistas como “normais” porque são compartilhadas por todos à nossa volta — o que não as torna menos arriscadas.
Por que entender essa diferença muda tudo?
Antes de mais nada, saber a diferença entre dívida boa e dívida ruim permite que você:
Use o crédito como ferramenta, e não como armadilha;
Evite entrar em ciclos de endividamento recorrente;
Invista com mais segurança no seu futuro;
Desenvolva autoconfiança financeira.
Infelizmente, o marketing agressivo, o parcelamento sem juros (aparente) e a facilidade de crédito fazem com que muitas pessoas assumam dívidas ruins acreditando que estão fazendo um bom negócio.
💡 Dica: Sempre se pergunte: “Isso me trará retorno ou estabilidade futura? Ou estou apenas cedendo à emoção do momento?”
O papel das emoções nas dívidas ruins
Nosso cérebro foi programado para buscar prazer e evitar dor. Por isso, muitas vezes tomamos decisões financeiras movidas por impulsos emocionais, não pela lógica. Um estudo publicado na Harvard Business Review mostrou que, sob estresse, nosso cérebro tende a ignorar consequências futuras e focar apenas no alívio imediato.
É exatamente isso que acontece quando usamos o cartão para aliviar o cansaço com uma “compra merecida” — mesmo que a fatura já esteja no limite.
Além disso, o medo de “ficar para trás”, de não acompanhar os amigos ou aparentar sucesso contribui para um padrão de consumo insustentável, muitas vezes financiado por dívidas ruins.
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Como avaliar se uma dívida é boa ou ruim?
Antes de assumir qualquer compromisso, reflita:
Eu preciso realmente disso agora?
Essa dívida vai me ajudar a crescer ou só aliviar um desejo momentâneo?
Consigo pagar as parcelas sem comprometer o essencial?
Qual é o custo total (com juros) ao final?
Existe outra forma de alcançar esse objetivo sem me endividar?
Essas perguntas ajudam a retomar o controle e a desenvolver uma relação mais saudável com o crédito.
Como sair de dívidas ruins
Se você já está envolvida em dívidas que não fazem mais sentido, não se culpe — mas também não ignore. Eis um passo a passo possível:
Levante todas as dívidas com valores, prazos e juros;
Classifique entre boas e ruins (o que gera retorno e o que não);
Negocie as condições: busque reduzir juros e alongar prazos;
Priorize o pagamento das mais caras (ex: cartão de crédito, cheque especial);
Evite novas dívidas durante o processo;
Acompanhe seu orçamento com planilhas ou apps simples.
🔗 Baixe: Planilha de gastos mensais simples
Se necessário, conte com a ajuda de um consultor financeiro ou orientador de dívidas (muitos serviços são gratuitos, como os do Procon ou do Serasa).
O crédito não é vilão, mas exige respeito
Dívidas não são todas iguais. Portanto, saber a diferença entre dívida boa e dívida ruim é uma habilidade financeira essencial. Em um país onde o crédito é fácil, mas o planejamento é raro, quem aprende a fazer essa distinção sai na frente.
Não se trata de viver sem dívidas a qualquer custo — mas de usar o crédito como um aliado do seu crescimento, e não como um freio da sua tranquilidade.
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