A maior jogadora da história do futebol feminino inspira uma nova conversa sobre equilíbrio entre maternidade e carreira profissional
Marta Vieira da Silva, ícone global do futebol feminino e eleita a melhor jogadora da história pela FIFA, está em mais uma fase marcante de sua trajetória: além de mirar a Copa do Mundo de 2027, ela também fala, com sinceridade, sobre o desejo de ser mãe.
Em uma sociedade que ainda impõe desafios significativos às mulheres que desejam conciliar a maternidade com a vida profissional, Marta reacende um debate necessário: é possível sonhar alto na carreira e, ao mesmo tempo, construir uma vida pessoal com propósito?
Neste artigo, exploramos o legado de Marta, as barreiras enfrentadas por mulheres que conciliam maternidade e carreira profissional e como a história da camisa 10 pode inspirar outras mulheres a buscar equilíbrio, sem abrir mão dos próprios sonhos.
Marta: um legado que vai além do futebol
Nascida em Dois Riachos, interior de Alagoas, Marta superou inúmeras barreiras sociais e estruturais para se tornar a maior artilheira da história das Copas do Mundo — tanto no futebol masculino quanto no feminino. Com seis prêmios de melhor jogadora do mundo da FIFA, ela construiu uma carreira brilhante, enfrentando desafios que muitas vezes ultrapassam os limites dos campos.
Mas agora, aos 39 anos, a jogadora também compartilha outra aspiração: o desejo de ser mãe. Em entrevista recente, Marta ponderou sobre a maternidade e sua possível participação na Copa de 2027, que o Brasil concorre para sediar. O relato traz à tona uma questão muito comum na vida de muitas mulheres: como equilibrar o desejo de cuidar de uma família com a continuidade de uma carreira profissional exigente?
Maternidade e carreira profissional: um desafio para muitas mulheres
O caso de Marta reflete uma realidade que vai muito além do esporte. De acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), quase 50% das mulheres perdem o emprego até dois anos após a licença-maternidade. Ainda que algumas consigam retomar suas atividades, o retorno ao mercado de trabalho muitas vezes é marcado por preconceitos, cobranças desproporcionais e menor valorização profissional.
Além disso, muitas empresas ainda não oferecem uma estrutura adequada para que mães consigam manter sua produtividade sem abrir mão da convivência com seus filhos. Faltam políticas de apoio como horários flexíveis, licença parental estendida para os pais, creches acessíveis e um ambiente livre de julgamentos.
Enquanto isso, homens raramente enfrentam questionamentos sobre a paternidade em relação à sua performance no trabalho. Isso evidencia o peso desigual que a maternidade e a carreira profissional exercem sobre as mulheres.
Marta e a quebra de estereótipos
O posicionamento de Marta em relação à maternidade não vem com tom de renúncia. Ao contrário, ela mostra que é possível continuar sonhando alto enquanto considera construir uma família. É essa mensagem que torna sua fala tão poderosa.
Durante a entrevista, a jogadora não descartou a participação na próxima Copa, caso o Brasil seja sede. Ela mencionou o desejo de estar presente como atleta ou de outra forma, mas deixou claro que sua prioridade, neste momento, é viver outras experiências pessoais — entre elas, a maternidade. Isso mostra que realizar o desejo de ser mãe não significa desistir de ser protagonista em outras áreas da vida.
Marta quebra estereótipos que ainda rondam mulheres bem-sucedidas: o de que a maternidade as torna menos ambiciosas, menos comprometidas ou menos capacitadas. Na verdade, muitas mães relatam que a experiência da maternidade amplia habilidades como empatia, resiliência, foco e gestão do tempo — competências altamente valorizadas no mercado.
A importância de políticas públicas e apoio institucional
Para que mais mulheres possam trilhar caminhos semelhantes ao de Marta — isto é, com liberdade para sonhar tanto com a carreira quanto com a maternidade —, é fundamental que haja mudanças estruturais. Políticas públicas voltadas à equidade de gênero no trabalho são essenciais.
Programas de apoio à parentalidade, licença-maternidade e paternidade adequadas, creches acessíveis e campanhas contra o preconceito no retorno ao mercado de trabalho são medidas que podem transformar realidades. Além disso, é necessário valorizar empresas que adotam uma cultura organizacional inclusiva e humanizada.
Marta, como figura pública, também pode exercer um papel relevante ao trazer essa pauta para o centro da discussão. Quando uma mulher com sua visibilidade fala sobre o desafio de equilibrar maternidade e carreira profissional, ela não só inspira outras mulheres, como também pressiona instituições a repensarem práticas ultrapassadas.
O que aprendemos com Marta
Seja ou não convocada para disputar a Copa de 2027, Marta já escreveu seu nome na história do futebol mundial. O que está em jogo agora não é apenas uma camisa 10 em campo, mas o direito de toda mulher sonhar em todas as direções: com a maternidade, com a carreira, com conquistas pessoais e coletivas.
O exemplo da jogadora mostra que o planejamento familiar não deve ser um obstáculo à realização profissional. Quando existe rede de apoio, políticas adequadas e, principalmente, liberdade de escolha, a maternidade pode ser uma etapa rica da vida — e não um fim de trajetória.
A história de Marta reforça a importância de ressignificar o conceito de sucesso feminino. Ele não precisa ser linear, nem excludente. É possível, sim, ser mãe e ter uma carreira de alto impacto. É possível priorizar a família e continuar sonhando com projetos ambiciosos. O que não é mais aceitável é que as mulheres tenham que escolher entre uma coisa ou outra por falta de apoio, compreensão ou estrutura.
Que Marta continue inspirando não só jogadoras e fãs de futebol, mas todas as mulheres que desejam viver suas múltiplas vocações com liberdade, propósito e equilíbrio.
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